Dê uma olhada na agenda do Future Compute do MIT… por onde eu começo? Como extrair de tantas boas conversar o que mais pode te interessar? Não é fácil…








Eu já era fã do MIT e sobretudo da Technology Review mas quanto mais eu participo dos eventos deles, mais minha admiração se reforça e o Future Compute é praticamente um Q.E.D. disso: conversas abertas e transparentes com expoentes da indústria e da academia e, sobretudo, uma atenção constante ao impacto das tecnologias na sociedade e no meio ambiente. Nada de cybermessianismo, hype barato ou tecnocentrismo e isso se demonstra na maneira como o evento é estruturado: todo palestrante, seja patrocinador ou não, tem meia hora para sua palestra e um outro tanto para debater com o mediador e responder às perguntas da plateia presencial e virtual, e tanto os mediadores quanto as perguntas não dão moleza pra ninguém.
Eu testemunhei essa dinâmica tão especial quando fui presencialmente assistir ao EmTech Digital 2022 (minha primeira ida ao MediaLab!) e respirei essa atmosfera de colaboração, inspiração e humanismo que mesmo virtualmente é a marca registrada do MIT.
O Future Compute aconteceu nos dias 3 e 4 de março de 2022 e eu não perdi nem um instante sequer, pois as discussões foram ótimas. Claro, sempre tem algum executivo de alguma big tech ou sendo vendedor demais ou sendo nerd demais ou sendo arrogante demais, mas felizmente os mediadores conseguiram sempre compensar essas mancadas e não faltaram papos incríveis para recuperar a energia do evento.
Que assuntos o Future Compute escolheu para debater conosco? Computação Quântica, Edge Computing, Criptografia, Lei de Moore, Metaversos, Ciência dos Materiais e tudo isso permeado por uma preocupação constante com a Ética, a sociedade e o meio ambiente.
Quer um exemplo? Quando Manish Sharma da gigante Honeywell contou para nós sobre o esforço da empresa em atingir a neutralidade de carbono na construção civil, indústria que tem uma pegada ambiental pesada, através do uso de IoT e Edge Computing um espectador perguntou se eles não estavam cogitando conectar a cadeia de suprimentos usando blockchain, sua resposta foi: blockchain consome energia demais. Q.E.D.: ninguém ali estava falando de tecnologia pela tecnologia, mas sim sopesando seus impactos positivos e negativos.
Outro exemplo? Quando Phillip Rosedale do Second Life e Dan Sturman do Roblox contaram sobre seus respectivos metaversos, um dos temas centrais foi a civilidade, ou seja, como garantir que os ambientes se mantivessem saudáveis e prósperos sem desandar em polarização, discriminação ou assédio. Gostei muito quando Phillip disse que uma das razões possíveis para que o Second Life continuasse até hoje um ambiente bacana (juro: eu achei que tivesse acabado) é o fato de não adotarem o modelo de negócios do facebook, onde o usuário é trackeado, monitorado e seus dados mais íntimos negociados com anunciantes, modelo que (eu concordo) acaba levando a algoritmos que exponencializam a polarização de qualquer ambiente. Aí vão algumas imagens:




O debate entre Phillip Rosedale e Dan Sturman foi ainda mais rico por conta da incrível Amy Webbs do Future Institute que também fez uma palestra genial sobre seu trabalho como futurista. Aqui vão dois bons momentos:





Outra figura maravilhosa foi o Marco Pistoia do JP Morgan, que não só nos mostrou como o advento da Computação Quântica pode dar uma vantagem enorme às empresas pioneiras como também pode pôr abaixo a segurança de países, companhias e consumidores pelo simples fato de que a criptografia atual deixa de nos proteger a todos. A empresa em que trabalha, o JPMorgan, não só está convertendo seus algoritmos clássicos para versões quânticas como já está realizando provas de conceito bastante impressionantes de transações seguras em nível quântico. Aí vão alguns slides:

Um outro excelente palestrante foi Brian Gattoni do CISA (Cybersecurity and Infrastructure Security Agency) do governo americano, que falou sobre o quanto os EUA estão atentos à ameaça representada pelos ciberataques mais diversos, desde ransomware paralisando hospitais, escolas e infraestrutura (como o traumático incidente na Colonial Pipeline, que comprometeu o abastecimento de energia de milhões de pessoas). Perguntei a ele como fazia para recrutar os melhores talentos, já que o setor público não é tão sexy quanto as big techs ou startups e a resposta dele foi boa: logo depois de ele se formar as Torres Gêmeas foram atacadas e ele imediatamente decidiu que dedicaria sua vida a proteger o país, e é esse senso de patriotismo que atrai jovens profissionais para a missão. Outra sacada boa: ao invés de cada contratado ganhar um crachá meio broxa como “gerente de TI” ou “programador”, novos cargos foram criados para representar melhor os desafios, como “expert em criptografia” ou “cybersegurança”. Gostei.

Num evento do MIT não dá para achar futuro depende só de algoritmos e ideias abstratas, hardware e engenharia são pilares fundamentais da inovação. Jessica Kelly trabalha na indústria automotiva e fez uma palestra interessantíssima sobre o quanto a pandemia afetou a indústria automobilística (200 bilhões de dólares de prejuízo) na medida em que a produção de chips foi concentrada, inicialmente, não na produção de ítens para carros (quem quer carros no lockdown, afinal?) mas sim na demanda explosiva de celulares 5G, laptops e computadores. Quando as pessoas voltaram a comprar carros não havia chips suficientes e o resultado são lojas com fila de espera, montadoras com carros parados por falta de chip e fabricantes de chip solicitando até 72 meses de forecasting das demandas. Quem diria chips de silício poderiam puxar o freio de mão da indústria automotiva?



E reforçando a importância da engenharia e da ciência dos materiais, Tomas Palacios nos mostrou o potencial do grafeno na aceleração de componentes, do nitreto de gálio na questão da energia e conectividade e as novas possibilidades que inovações em materiais permitem, como circuitos flexíveis, componentes do tamanho de células e, quem sabe num futuro próximo, circuitos tão pequenos que possam ser espalhados em aerossol para monitorar o ar e detectar substâncias perigosas. Impressionante, aprendi bastante.
O Future Compute me empolgou tanto que logo de cara me perguntei: como compartilhar o que estou aprendendo agora com quem não pode participar? Twittei, comentei e aí decidi entrar ao vivo a cada intervalo para, no calor da emoção, contar o que eu acabara de ver. Foram 8 lives curtas no total, transmitidas simultaneamente no Twitter, Linkedin, Facebook e Youtube (Streamyard faz isso, adoro), e aí estão as lives todas caso você queira conferir (e caso não tenha tempo agora, pule para o resto do texto)
Se você preferir só ouvir, publiquei o áudio no SoundCloud também, aí está:
Estou inspirado, e estava precisando disso. Bom saber que tem tanta gente boa apaixonada pelo desafio de criar um futuro mais humano para todos nós.
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