Well, tanto faz, lembro como se fosse… dez anos atrás: o PJ (então na DM9, eu ainda na Almap) se apresentando num evento com sua palestra originalíssima chamada “Internet Sem Chatice”. Ou era “Internet não tem que ser chata”. Ou era… well, faz dez anos afinal. Mas tinha chatice no meio, isso tinha.
O que tinha de chato na internet naquela época, afinal? Nem lembro. Mas me lembro sim de, naqueles primórdios, chamar amigos e colegas e familiares pra mostrar a tal da internet e todos dizerem: isso é muito chato, demora muito!
Eu demorei dez anos pra entender de que demora eles estavam falando. Não era só culpa dos modems de 14.4k (argh), era outra história. E essa história ainda continua.
A história é a seguinte: naquela época as pessoas, como hoje, estavam mal (ou bem) acostumadas em termos de experiência com interfaces. Televisão era só ligar e pronto, dezenas de canais na ponta do controle remoto. Zero demora, zero dificuldade (ok, programar VHS não conta). O próprio computador já rodava jogos em CD-ROM com uma qualidade bem bacana. O tempo foi passando e hoje qualquer badulaque, dos games portáteis aos celulares mais genéricos passando por caixas eletrônicos são experiências ricas, rápidas e visualmente atraentes.
Naquela época em que tudo já ligava e saía falando, internet era um choque. Se o computador podia fazer tanta coisa, por que raios ele sofria tanto pra mostrar uma pagineta miserável? E aí começava o estranhamento e muita gente se desencantava.
Eu trabalhava em agência, e lembro que todo publicitário queria poder colocar um filme de 30s com qualidade bacana… na internet. Até eu explicar que compressão isso, usabilidade aquilo, o cara já tinha ido embora com seu filme debaixo do braço. Muitos criativos desencavam.
Dez anos se passaram e a gente já aprendeu que internet é outra história, que é um canal diferente, que podemos explorar N outros recursos, que é viral, etc etc etc. Mas… quem disse que tem queainda tem que ser chato?
Ok, você não acha chato. Nem eu. Você deve usar agregadores de RSS sem charme algum e um webmail praticamente text-based e eu adoro oferece um internet banking poderoso cheio de recursos avançados. Somos meio-franciscanos, meio-espartanos. Mas você e eu não somos parâmetro pra nada, somos 5% do mercado interativo e olha lá. E os outros 95%, será que eles não estão achando algumas coisas… chatas?
Internet banking é um exemplo interessante: não sei os números ao certo, mas acho que só uns 10-20% de todos os correntistas usam internet banking. Muita gente prefere os caixas automáticos ou mesmo ir ao banco. Por que será?
Na próxima vez que você for a um caixa automático preste atenção nos outros usuários (não muito, senão vão chamar a polícia). Como é a interface? Tem dezenas de links em texto miúdo empilhadinhos e drop-down menus compridos? Nãããão: tem uma interface gráfica com botões grandes, opções claras e todo um cuidado em orientar cada passo. Resultado: mesmo que, pela lei de Murphy, o cara na tua frente seja uma tartaruga, ele ainda consegue usar a interface. Agora imagine o tal tartaruga na frente… do internet banking de verdade. Ele sairia correndo… até achar um bom caixa automático.
Onde estou querendo chegar? Well, já cheguei, já chegamos todos: chegamos num ponto onde designers têm de novo mais espaço e ferramentas e recursos para criar interfaces mais legais. A tecnologia avançou, qualquer máquina à venda em 12 vezes no supermercado já é um maquinão e a conectividade melhorou muito. A classe C está comprando laptops sem parar. Está mais do que na hora dos designers darem as mãos aos developers e cumprirem sua missão: tornar o mundo menos chato. Está na hora de developers aprenderem a pensar em design e designers pensarem no que a tecnologia permite. Está na hora de developers e designers aprenderem a ser… deVigners.
Aqui e ali a gente já percebe a diferença brutal que deVigners fazem: qual mp3 player você pediria de natal? Qual console de game? Qual celular? Qual laptop? Aposto que você pensou imediatamente em produtos bem desenhados, com tecnologia impecável e com experiências legais e envolventes. Isso só acontece quando developers e designers trabalham juntos, quando há uma mentalidade deVigner em jogo.
Folks, lembremos do imortal Joãozinho Trinta: quem gosta de miséria é intelectual. Lembremos do Renezinho Quarenta-e-Três: a gente gosta mesmo é de luxo.
E se você for um deVigner, me procure ;^)