O site era bárbaro, ficamos todos boquiabertos. Nos idos de 98 não havia muitos sites como aquele. Hoje hot-sites de produto em flash e tal são carne de vaca, mas na época nem se falava em hot-site e as coisas eram feitas em shockwave mesmo.
Bacana mesmo é que o site era a cara do produto, um carro originalíssimo, bem-humorado, cool. Site legal, carro legal, tudo super promissor não fosse por um… alce.
Alce é um bicho descomunal, enorme, que faz vaca parecer pônei. Parece que tem muito nos países nórdicos, tem tantos que um dos testes de segurança para um carro é o “teste do alce”.
O teste é mais ou menos assim: você está numa estrada dirigindo feliz e contente em alta velocidade. E se um alce surge do nada?
Well, frente a essa pergunta o carrinho deu a resposta errada: capotou feio. Nem sei se o motorista se machucou, mas o acidente foi fatal pra carreira do modelo. Acho que agora relançaram e tal, vi um outro dia. Mas o alce deixou sua pegada na história automobilística.
“E se…?” não é uma pergunta que brasileiros gostam de fazer. Deus é brasileiro, não é? Por que se preocupar?
Os crentes que me perdoem, mas internet é diabólica. Devia se chamar inFernet. Não há anjos da guarda, não adianta rezar, e nenhuma vela de sete dias espanta hacker.
Em suma: algo vai dar errado. Sempre. E é nessas horas que você distingue o bom profissional da anta: diante de um desastre, ele capota ou reage a tempo?
Por que erros acontecem tanto? Por conta da inelutável Lei de Murphy, “se algo pode dar errado, dará”? Sim, mas por outra razão mais positiva: a cada dia que passa, projetos interativos envolvem mais e mais “frentes”: email, call center, negócios, conteúdo, CRM… Cada frente dessas tem mil “alces” na tocaia.
Quer um exemplo? Você tem dois fornecedores “de internet” pra escolher. Cada um traz um projeto mais bacaninha que o outro. Como escolher? Joga um alce na pista:
– e se o projeto der super certo e tivermos milhares de usuários entrando ao mesmo tempo?
ou
– e se todos os visitantes ficarem tão impressionados que vão mandar zilhões de emails?
ou
– e se não dermos conta dos pedidos?
ou
– e se o seu designer ganhar um prêmio e mudar pra Londres?
ou
– e se eu quiser atualizar o site de meia em meia hora?
Como você pode ver, sucesso em excesso também dá encrenca. E por mais que os fornecedores prometam maravilhas, nem todos estão preparados para o tranco do “dar certo demais”
Se problemas vão acontecer quer a gente se previna ou não, porque a gente não relaxa de uma vez? Sim, você pode relaxar e gozar, mas de preferência bem longe de mim.
Problemas “conhecidos” a gente previne de saída. Experiências anteriores (e cicatrizes e calos) ajudam muito, mas um bom exercício de “e se…” pode prevenir muita coisa.
Por exemplo: você recebe um layout todo diagramadinho, alinhadinho e tal. Com um pouco de imaginação, você se pergunta: e se esse texto for muito maior? E se a foto vier num tamanho maior? E se eu precisar tirar esse conteúdo no ar rapidamente? E se eu tiver que alterar alguma coisa no meio da madrugada? E se o usuário digitar errado o endereço? E se o usuário apertar o BACK? E se o usuário adicionar essa página ao bookmark? E se o usuário preferir telefonar?
Alces não faltam.
Há perguntas mais dramáticas: e se o fornecedor falir? E se tivermos problemas depois do projeto estar entregue? E se o fornecedor não cumprir o prometido? E se forem necessárias alterações? E se for preciso migrar de hospedagem?
Antes de se encantar com discursos “legais”, “cool” e “criativos”, veja se o airbag funciona. Ou então torça para criarem recall de profissionais com defeito de fábrica.
Paranóia? Não. Ter algo online é ter uma vitrine permanente, mas vitrines são de vidro. E atire a primeira pedra quem nunca capotou.