Tudo Muito Natural

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‘Tá bom, ‘tá bom, eu não tenho a menor propriedade pra falar de nada natural, eu sei ?. Eu só descobri que embaixo de asfalto tinha terra (parece que ainda tem) quando fizeram uma obra na minha rua. Quem diria… eu pensava que terra era coisa de vaso, de canteiro. Pensando bem… o planeta se chama Terra… hmmm, eu devia ter pensado nisso.
Eu nasci no centro de São Paulo. Cresci lá. Praticamente tudo à minha volta (com exceção do céu, que eu não olhava) era fruto do engenho humano. Até mesmo a Praça da República era obra de paisagista e não mato (meu rótulo genérico para aglomerações vegetais sem finalidade explícita). Para mim o artificial é muito natural. Cidades são meu habitat. A convivência urbana é minha segunda natureza. Meu planeta se chama Metrópole. Urbi et Orbi. Vocês entenderam.
Voltemos ao título, então. Eu tive a oportunidade de conhecer recentemente três figuras geniais: Luke Wroblewski, Tom Chi (ambos do Yahoo!) e August de Los Reyes (Microsoft Research). Os dois primeiros são mais manjados, são papas no que fazem e seus blogs são facinhos de achar. Já o August é outra história: ele está envolvido em algo que mal começamos a ver, o design de interfaces naturais.
Aí começa a história: interfaces são artificiais, não são naturais. Uma tela não cresce em árvore (acho). Mas se você assistir a qualquer demonstração do Surface, vai ver que a interação parece natural. Mais do que isso: ela é percebida como natural.
A BMW criou um configurador de veículo onde você escolhe amostras reais de couro, veludo e metal e usa essas amostras reais para alterar a aparência do carro na tela. Dê uma olhada aqui: http://tinyurl.com/surface-bmw .
Objetos reais interagindo naturalmente com objetos digitais. Várias pessoas interagindo ao mesmo tempo numa única experiência, experiência essa aberta e social, não mais individual e isolada como num computador.
Quem desenha uma experiência assim? Como se desenha uma experiência assim? Que designer é esse?
Agora posso juntar o Luke e o Tom na conversa: aquilo que era o habitat natural do designer digital está ficando para trás. Muito em breve designers de verdade vão ter que pensar muito mais fora da caixa. Muito mais.
Se um problema de design hoje, na prática, é “desenhar uma cara legal pra uma página”, amanhã será: o que motivará um consumidor a visitar nossa loja novamente? O designer não vai tentar resolver problemas, ele vai participar da definição de qual é realmente o problema e desenhar uma experiência inteira, uma experiência que pode envolver desde o design do produto, sua estratégia de comunicação, a experiência do usuário na loja, na internet, no celular… Design não vai ser só uma boa resposta. Design vai ser sobretudo criar boas perguntas.
E agora eu te pergunto: você é bom de pergunta? Se te colocarem na mesma mesa dos executivos, se te convidarem para participar do brainstorming que vai definir o futuro do produto e da empresa, você vai fazer bonito ou vai meramente… achar bonito? Well, se você não fizer a lição de casa, caríssimo, duvido que te convidem de novo 🙂
Vamos lá então: que lição de casa é essa? O que te falta pra sentar na mesona com os peixes grandes? Well, você tem algo que vale ouro: a capacidade de pensar fora da caixa, de reconhecer padrões, de costurar coisas de maneira original. Isso é valiosíssimo. O que pode estar faltando é visão de negócios. O que pode estar faltando são boas noções de psicologia, antropologia, economia, sociologia. O que pode estar faltando é um MBA em Marketing.
Nesta altura você deve estar esperneando e dizendo: mas se eu gostasse de negócios teria feito Marketing! Eu sou designer! E eu te diria: por enquanto : ) Em breve pensar business vai ser muito, mas muito natural. É esse o discurso do Luke e do Tom: como combinar os teus dons de designer com visão estratégica. Entender o mercado, entender o consumidor, perceber novas tendências… aí sim dá para desenhar experiências realmente inovadoras. Aí não tem pra mais ninguém.
A menos que você queira fazer botões pro resto da vida, o que é, naturalmente, um direito seu. Ah… se você, pra completar, quiser morar no meio do mato, por favor inclua-me fora dessa 😉

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