Um professor muito saudoso lá da ECA dizia pra gente: quando você for pensar numa história pense primeiro no fim. Dica sábia que não vou esquecer nunca, muito embora eu não a aplique quase nunca e continue escrevendo de orelhada artigos sem pé nem cabeça.
Desta vez decidi fazer diferente e pensar primeiro no fim. Well, não preciso dizer que durou pouco: mil digressões e delírios e acabei pensando… no meu próprio fim, tema não muito pertinente numa revista de webdesign. Se bem que design vem de desígnio e desígnio pressupõe finalidade que pressupõe um fim e… pronto, lá vou eu de novo em viagens sem fim.
Pelo fim, pelo não talvez valha a pena facilitar a vida dos CSI futuros e dar algumas pistas da minha causa mortis caso ela não seja óbvia. Primeira dica: confira a câmera. É capaz que eu tenha tentado de novo fotografar uma frase de pára-choques de caminhão, não tenha parado nada e… me choquei. Segunda dica: confira meu Zune. É possível que eu, numa atenção irrefreável a um podcast genial, não tenha ouvido a freada fatal. De uma maneira ou de outra seriam finais felizes, enfim.
Agora mesmo vinha ouvindo um podcast do Think, um programa de uma rádio texana chamada KERA. Eles estavam pedindo doações dos ouvintes, que é a maneira como muitas rádios públicas absolutametne geniais (National Public Radio – NPR, American Public Media – APM) sobrevivem. Para o meu deleite eles estavam fazendo um pot-pourri de entrevistas antológicas começando pelo Gene Wilder, ator genial e comediante impagável.
Entrevista muito tocante, daquelas pra não ouvir tocarem buzinas nem xingarem esse pedestre incauto. Num dado momento Gene Wilder conta que, aos 11 anos, viu pela primeira vez sua irmã atuar num palco. Gene se encantou: enquanto sua irmã atuou não se ouviu um pio, um ruído, nada. Atenção absoluta. Um milagre. Gene ficou tão arrebatado que foi pedir ao professor de teatro da irmã que o aceitasse como aluno. Atuar era algo divino. Ele tinha onze anos. Teve que esperar até os treze. O resto é história.
Parei (não no meio da rua, por sorte) e pensei: eureka. Divino não é atuar, o milagre do teatro não está no ator. A magia não está no palco. Mágico mesmo é que pessoas parem, deixem de lado o resto do mundo e concedam àquele acontecimento breve uma atenção sem fim e, mais do que isso, que concedam ao ator a sua confiança e credulidade totais.
Sem essa doação, sem essa entrega completa da platéia nenhum ator é Rei Lear. Sem essa concessão temporária, sem essa suspensão breve das regras cotidianas não há “Vestido de Noiva”. A mágica só acontece porque nós somos capazes de parar o mundo e ouvir.
Nosso trabalho não é diferente. Um site de banco só é um site de banco se cada um de nós acreditar nele da mesma maneira que acreditamos no banco. Ler blog só presta para alguma coisa se acreditarmos que o autor… presta. Um podcast, um site, um vídeo só têm um mínimo de realidade se as pessoas pararem o que estão fazendo, silenciarem o seu mundo e prestarem atenção em você. Senão, meu caro, são apenas palavras, palavras, palavras. Ou bytes, bytes, bytes.
Em outro momento da entrevista a apresentadora pergunta ao Wilder: por quê você é engraçado? Ele, com uma franqueza desconcertante conta uma história de infância, uma história pungente, mas logo depois admite: não sabe. Ele é engraçado porque as pessoas acham graça nele.
Se pensarmos por que razão as pessoas acham tanta graça num serviço online e não em outro vamos certamente arriscar inúmeras razões técnicas, negociais, artísticas, mas razões talvez não expliquem a emoção que está investida ali, o valor que aquele serviço representa para cada um, o tempo que cada pessoa reservou para aquele produto e não outro. A razão está fora da nossa cabeça, está no coração alheio.
Faz tempo que eu bato nessa tecla: estudemos sim, aprendamos sim, mas tenhamos sempre a humildade e a gratidão de reconhecer que sem a audiência, sem o carinho, sem o investimento afetivo, sem a doação da mercadoria mais rara –a atenção dos nossos usuários – tudo o que fazemos não tem vida alguma. E fim.
Desta vez decidi fazer diferente e pensar primeiro no fim. Well, não preciso dizer que durou pouco: mil digressões e delírios e acabei pensando… no meu próprio fim, tema não muito pertinente numa revista de webdesign. Se bem que design vem de desígnio e desígnio pressupõe finalidade que pressupõe um fim e… pronto, lá vou eu de novo em viagens sem fim.
Pelo fim, pelo não talvez valha a pena facilitar a vida dos CSI futuros e dar algumas pistas da minha causa mortis caso ela não seja óbvia. Primeira dica: confira a câmera. É capaz que eu tenha tentado de novo fotografar uma frase de pára-choques de caminhão, não tenha parado nada e… me choquei. Segunda dica: confira meu Zune. É possível que eu, numa atenção irrefreável a um podcast genial, não tenha ouvido a freada fatal. De uma maneira ou de outra seriam finais felizes, enfim.
Agora mesmo vinha ouvindo um podcast do Think, um programa de uma rádio texana chamada KERA. Eles estavam pedindo doações dos ouvintes, que é a maneira como muitas rádios públicas absolutametne geniais (National Public Radio – NPR, American Public Media – APM) sobrevivem. Para o meu deleite eles estavam fazendo um pot-pourri de entrevistas antológicas começando pelo Gene Wilder, ator genial e comediante impagável.
Entrevista muito tocante, daquelas pra não ouvir tocarem buzinas nem xingarem esse pedestre incauto. Num dado momento Gene Wilder conta que, aos 11 anos, viu pela primeira vez sua irmã atuar num palco. Gene se encantou: enquanto sua irmã atuou não se ouviu um pio, um ruído, nada. Atenção absoluta. Um milagre. Gene ficou tão arrebatado que foi pedir ao professor de teatro da irmã que o aceitasse como aluno. Atuar era algo divino. Ele tinha onze anos. Teve que esperar até os treze. O resto é história.
Parei (não no meio da rua, por sorte) e pensei: eureka. Divino não é atuar, o milagre do teatro não está no ator. A magia não está no palco. Mágico mesmo é que pessoas parem, deixem de lado o resto do mundo e concedam àquele acontecimento breve uma atenção sem fim e, mais do que isso, que concedam ao ator a sua confiança e credulidade totais.
Sem essa doação, sem essa entrega completa da platéia nenhum ator é Rei Lear. Sem essa concessão temporária, sem essa suspensão breve das regras cotidianas não há “Vestido de Noiva”. A mágica só acontece porque nós somos capazes de parar o mundo e ouvir.
Nosso trabalho não é diferente. Um site de banco só é um site de banco se cada um de nós acreditar nele da mesma maneira que acreditamos no banco. Ler blog só presta para alguma coisa se acreditarmos que o autor… presta. Um podcast, um site, um vídeo só têm um mínimo de realidade se as pessoas pararem o que estão fazendo, silenciarem o seu mundo e prestarem atenção em você. Senão, meu caro, são apenas palavras, palavras, palavras. Ou bytes, bytes, bytes.
Em outro momento da entrevista a apresentadora pergunta ao Wilder: por quê você é engraçado? Ele, com uma franqueza desconcertante conta uma história de infância, uma história pungente, mas logo depois admite: não sabe. Ele é engraçado porque as pessoas acham graça nele.
Se pensarmos por que razão as pessoas acham tanta graça num serviço online e não em outro vamos certamente arriscar inúmeras razões técnicas, negociais, artísticas, mas razões talvez não expliquem a emoção que está investida ali, o valor que aquele serviço representa para cada um, o tempo que cada pessoa reservou para aquele produto e não outro. A razão está fora da nossa cabeça, está no coração alheio.
Faz tempo que eu bato nessa tecla: estudemos sim, aprendamos sim, mas tenhamos sempre a humildade e a gratidão de reconhecer que sem a audiência, sem o carinho, sem o investimento afetivo, sem a doação da mercadoria mais rara –a atenção dos nossos usuários – tudo o que fazemos não tem vida alguma. E fim.