Cultura útil?
Dizem que muitos dos filmes B americanos, aqueles com títulos bizarros como O Retorno do Monstro de Lixo ou O Ataque das Traças Gigantes, nasceram primeiro como cartazes. Um maluco fazia um poster delirante com aranhas descomunais e mulheres peitudas em pânico, e se ficasse legal faziam um filme barato.
Deve ser lenda, sei lá. Mas algumas das minhas maiores influências culturais são obras que só conheço pelo título. Uma delas, que jamais li nem vi, seria uma obra acadêmica do nosso ex-presidente FHC, chamado A Originalidade da Cópia. Parece, tudo indica, tenho a impressão e acredito que o assunto seja o seguinte: mesmo quando alguma coisa é copiada, chupada, imitada de um modelo estrangeiro, é inevitável que essa cópia tenha um toque local.
Algo me diz que o FH estivesse pensando em modelos sócio-econômicos. Acho. Mas essa idéia vale pra praticamente tudo que nós aqui, abaixo do equador, copiamos do primeiro-mundo, da calça jeans ao webdesign. Tudo fica mais moreno e rebolante quando vem pra cá.
Essa noção já se insinuava pra mim quando comecei a perceber a reação virulenta que alguns gurus como Jakob Nielsen provocavam por aqui. Embora internet seja global e tal, embora usemos todos as mesmas ferramentas no mundo todo, o webdesign brasileiro incorporou com a maior naturalidade coisas absolutamente tupiniquins. Começamos a fazer uma internet mais pra Joãozinho Trinta do que pra Googles e Amazons. Nessas bandas daqui, quem gosta de usabilidade é intelectual. O resto quer luxo só.
Estou carregando nas tintas, claro, mas vi ontem um artigo (esse eu li!) com um tema fascinante: o quanto as diferenças culturais de cada país se refletem no webdesign. O artigo está na New Architect, e mostra alguns extremos interessantes. Um deles compara dois sites similares em conteúdo, mas que no Panamá (país mais autoritário que a média) fica completamente diferente de um análogo na Holanda, nação mais easy-going na relação com o poder. Belo artigo, merece ser lido. Eu fiquei tão entusiasmado que até comprei o livro em que o estudo se baseia. Prometo passar do título, aliás.
E falando em outra obra que me marcou profundamente sem nunca eu ter passado na porta do cinema, Flertando com o Desastre é tudo. Belíssimo título. Serve pra muita coisa em internet por aqui, onde, como nos filmes B, muita coisa nasce e se vende pela direção de arte.