Manifesto anti-banquinhos

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(Esse banquinho aí­ do teu lado… não, não, aquele ali. Me empresta? Coisa rápida, é só para fazer um manifesto.)

Carí­ssimos, do alto desse banquinho quarenta anos vos contemplam, e é alçado a esta altura imerecida que proclamo: abaixo os banquinhos.

(Pronto, aqui está teu banquinho. Não pretendo usá-lo de novo, obrigado)

Vocês me conhecem, eu não sou de botar a boca no trombone à toa, no máximo um manifesto aqui e uns podcasts ali, mas chega uma hora que temos que tomar posição. E é imbuí­do do senso de dever que digo: arredemos pé das nossas posições. Estamos entrincheirados demais.

Estou falando sério. Outro dia acompanhei de perto um site novo ser metralhado por todos os lados: desenvolvedores fuzilando a compatibilidade com browsers, designers estapeando a usabilidade, criativos bombardeando o coitado do logotipo. O episódio só não foi trágico porque o dono do site tinha um bom-humor e à prova de balas.

Nem adianta pensar em desarmamento. Cada lado ali (engenheiros, designers, marketeiros, etc..) demorou anos pra conseguir seu arsenal: estudaram, praticaram, se aprimoraram, se organizaram… e se engessaram.

Se ao menos o confronto fosse bonito, algo como uma bela roda de capoeira… mas nunca é: cada um fica na sua trincheira jogando farpas e insultos de lá pra cá. Enquanto isso, felizes da vida, passam ao largo os verdadeiros inovadores, os visionários, aqueles que ao invés de defender territórios desbravam novos mundos.

OK, basta de alegorias e metáforas. Já deve ter dado para entender. Eu estou cutucando os donos-da-verdade de plantão, aqueles profissionais que sobem no banquinho para… (que outra palavra eu uso? Ai ai ai…) ditar (ufa!) regras a torto e a direito.

Abaixo os banquinhos. Abaixo quem se julga acima. Abaixo as opiniões incontestáveis. Abaixo o absolutismo.

Absolutismo nunca fez sentido, e na internet faz menos ainda.

Suponhamos que você faça um site para a sua agência. A agência quer se posicionar junto ao mercado como criativa e antenada com o state-of-the-art em novas mí­dias, e para isso faz um site multimí­dia, inovador e irreverente. Pronto, o site está no ar.

Começa o tiroteio: xiitas vao chiar (xiitas chiam by default) que o site não é tableless, não é W3C-compliant e que não roda no Opera pra Linux. Alguns puristas vão achar que o site é banda-intensiva e exclui propositalmente quem tem banda estreita e máquinas antigas. Outra ala vai apontar seus canhões contra o fato de que a mudança do logo foi meramente cosmética, enquanto chovem flechas de quem diz que aquela é uma sub-utilização dos recursos novos do flash XYZ.

Nessa hora eu bato o pé duas vezes: em primeiro lugar, desçamos do banquinho. Se a agência escolheu uma linha X de comunicação com seu target e esse target por acaso não te inclui, ela deve saber o que faz. Se a agência quer ser vista dessa maneira e não de outra, idem. Não há uma solução de comunicação que seja universal, há sempre escolhas a se fazer. Se ela errou o tiro, que aprenda com as consequências.

Em segundo lugar: se a agência foi capaz de produzir aquela comunicação e não outra, isso diz muito dela, sobretudo sobre seus méritos e… limitações.

Para exemplificar melhor suponhamos outro cenário: uma agência mediana encomenda seu site a um terceiro e o resultado é algo absolutamente arrasador e genial, muito acima da cultura digital da própria agência, um site impecável, revolucionário, trendsetter. Isso não seria propaganda enganosa, mostrar uma fachada que não corresponde ao que ela é capaz de pensar e realizar?

Ou alguma ética estranha diz que um site impecável mas irreal é preferí­vel a um site “pecador” mas verossí­mil?

Pecado por pecado, meus blogs pessoais são forrados de pecadilhos técnicos. Nem poderia ser diferente, porque não sou técnico.
Meu podcast vai ao ar do jeito que eu gravo, sem edição ou cortes. Nem poderia ser diferente, porque não sou locutor nem apresentador.
Os milhares de fotos que eu publico não tem retoques além de Levels e Crop.

Eu não quero criar uma ficção de mim mesmo, e não tenho o menor pudor quanto a imperfeições.

Nossas deficiências são tão nossas quanto as nossas qualidades, e mesmo que eu tenha minhas certezas, elas são inseparáveis da minha história, da minha perspectiva, do lugar onde estou sentado. Minha opinião é absolutamente parcial. Toda opinião é.

Quer pensar outside the box e inovar? Saia da trincheira. E não é nenhum banquinho que vai te tirar do buraco 🙂

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