OK, OK, esse título lembra dietas, adesivos de carro e campanhas de auto-ajuda. É vero.
E dietas me lembram verão, e verão me lembra tempo, e tempo me faz pensar no meu aniversário, e 42 anos de idade me faz lembrar da resposta para o sentido da vida e do universo e tudo o mais e também me faz pensar que pressupor que todos leram o mochileiro das galáxias é coisa de dinossauro, mesmo.
Desculpem-me a crise rápida de meia-idade mas é que toda vez que me preparo para escrever minha coluna aqui na revista eu me pergunto: quem sou eu, enfim, diante de tanta gente gabaritada, frente a tantos leitores com fome de relevâncias?
Com meu currículo rico em INdisciplinas escolares e heróica resistência à Academia (academias de ginástica incluídas), que respostas eu posso oferecer aqui?
Well, respostas devo ter algumas, mas as minhas têm um carimbo que diz: válida apenas no contexto original e com prazo de validade de 30 dias.
Por essas e outras que prefiro… semear perguntas. Uma boa pergunta vale mais que mil certezas, disso eu tenho certeza.
Nem toda pergunta ajuda, porém. Perguntar “por quê”, especialidade inesgotável de crianças numa idade chata, não refresca muito. Por quê? Simples: ao perguntar “por quê” erramos na mosca.
Claro que é intrigante entender os motivos, a causa, a vontade original. É tão instigante saber a razão de um ato que você pode, ao final de uma vida inteira cavucando a causa primeira, chegar a uma conclusão bombástica do tipo: a resposta é o sexo. Ou o poder. Ou o ácido desoxirribonucléico. Ou a vontade de um deus qualquer.
E aí eu pergunto: o que você faz com isso?
É como perguntar a alguém: por quê você… me ama/ deixou de me amar/ me deixou/ me conquistou/ me deu um beijo na boca/ etc etc etc. Ou perguntar: por quê você entra no meu site? Por quê não entra? Por quê prefere o do concorrente? Por quê você nos abandonou?
Que tipo de resposta você efetivamente espera? E que tipo de luz você espera dessa resposta? Convenhamos.
Well, o mundo é grande. Pergunte o “por quê” à vontade, é grátis.
Eu prefiro perguntar “como”.
Por exemplo:
– Como você usa internet?
– Como você navega em um site?
– Como você se comunica com amigos?
– Como você mima alguém distante?
– Como você escolhe um presente de aniversário?
– Como você descobre qual o melhor carro para você comprar?
– Como você encontra o que quer na internet?
– Como você se informa todo dia?
– Como você sabe se um site é confiável ou não?
– Como você se comporta numa comunidade online?
– Como você se expressa quando escreve emails? E quando manda mensagens instantâneas?
– Como você concebe uma idéia?
– Como um site vai crescer?
– Como é que sua comunidade vai se manter saudável?
– Como você gasta seu tempo?
– Como você lida com toneladas de email?
– Como você registra as coisas importantes?
– Como você gostaria de ser tratado?
– Como será que as pessoas te vêem na internet?
– Como você controla sua própria imagem na internet?
– Como você gostaria que o site XYZ fosse?
– Como você gostaria que a internet fosse?
– Como a internet mudou sua vida?
– Como você gostaria que a sua vida fosse?
Perguntar “como” abre caminhos. Quando você pergunta “como”, acaba se aventurando em mares nunca dantes navegados por você. Ao se perguntar “como eu compraria um carro hoje” você pode descobrir que consultar amigos no trabalho ou pesquisar sites e comunidades pode ser tão indispensável quanto ir à concessionária e falar com o vendedor. E que a decisão final pode ser tomada depois de uma troca de SMS e MMS com alguém que você confia.
Perguntar “por quê” pressupõe que exista uma resposta única. Perguntar “como” traz à tona a infinidade de soluções que gente como eu e você damos para todos os passos de um processo. Perguntar “como” te força a prestar atenção, a observar, a notar diferenças. Perguntar “como” te abre os olhos para a riqueza sem fim da criatividade de todos nós.
Lembre-se: não estamos desenhando interfaces ou aplicações. Estamos tornando a vida dos usuários mais rica e mais digna.
E se você quiser ver meu entusiasmo juvenil aflorar aos plenos 42 anos de idade, pergunte-me como 😉