Super Size Web

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artigo pra revista Webdesign

Uma pergunta de quinze quilos: por que será que escolheram o @ e não outro sí­mbolo qualquer? Arroba pesa.

Quem sabe se tivessem escolhido outro sí­mbolo esse nosso digimundo não pesaria tanto, quem sabe assim não terí­amos que avançar léguas… polegada por polegada.

Sí­mbolos por sí­mbolos, poderiam ter usado o &. Quando clientes briefam um projeto, normalmente querem isso & aquilo & aquilo também & um fórum & chat & o maior portal do setor, tudo isso @ um preço e prazo ***, enquanto você pensa consigo mesmo: #!%&!!!

Nesse buffet por quilo do digimundo deverí­amos alertar os clientes gulosos: escolha com moderação; excessos são prejudiciais a saúde. Pensando melhor, acho que o aviso vai passar batido: quem arca com ônus dessa gula é o usuário, aquela figura mí­tica e invisí­vel que paga os pecados do digimundo, amém. É o usuário que vai engolir o vinho azedo e o pão dormido de um site abandonado, é ele que vai passar pelo vale das sombras para encontrar o que quer, é ele quem vai esperar o juí­zo final para receber uma resposta por email, é ele que vai ter que rezar pra a intro em flash acabar logo.

Essa gula clientélica não é privilégio da internet: 99% das pessoas ignora 99% das funções do celular que escolheu, do software que instalou, do home theater que comprou… Mas até aí­ é livre-arbí­trio, são pecadilhos de foro í­ntimo que não fazem da vida alheia um inferno. Já com inFernet… a tentação de um é a perdição de muitos.

De que tamanho tem que ser o seu site? A resposta é simples: do tamanho do seu tempo. Sites são ainda mais gulosos que você, e em pouco tempo vão devorar seus recursos, suas horas extras, seu orçamento… a menos que você crie um site domesticável, que você dê conta. Se você ainda continua pensando grande, lá vão pequenas perguntas:

* Quem vai responder os emails?
* Quem vai ver se o site está com o tráfego normal?
* Quem vai perceber que o site foi hackeado sábado à s três da manhã?
* E quem vai “consertar” o site hackeado a tempo?
* Quem vai back-upear o site regularmente?
* Quem vai atualizar as notí­cias?
* Quem vai criar e disparar as newsletters?
* Quem vai cuidar de banners e mí­dia online?
* Quem vai extrair alguma inteligência dos dados de tráfego e transações?
* Quem vai checar se nao publicaram alguma atrocidade no forum?
* Quem vai trazer de volta os usuários que sumiram?
* Quem vai…? E por aí­ vai.

Cada feature no seu site tem dois lados: é um serviço a mais para o usuário mas é uma responsabilidade a mais para você, uma responsabilidade 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem feriado nem descanso.

Para dar conta dessa demanda você tem três caminhos: investir recursos (que nunca ninguém tem), não dar conta (e o usuário incomodado que se mude) ou simplesmente… cortar o mal pela raiz, descartando aquilo que é definitivamente um tiro no pé.

Ok, ok, a tentação é grande sempre, a vontade é abraçar o digimundo com as pernas e ter olhos maiores que o mouse (ou o bolso). Mas pense como usuário: é melhor um site cheio dos truques mas mosca-morta, ou um site enxuto, focado, que cumpre o que promete?

Eu fico com o segundo: é sempre preferí­vel surpreender com o over-delivering do que frustrar com overpromising. (Talvez um bom tí­tulo pra história do digimundo fosse “A Insustentável Leveza da Web”).

Tempos atrás um conhecido me recomendou os serviços de um fornecedor de marketing direto digital. O cara é um gênio, disse ele. Anotei a dica, e mais tarde fui consultar a URL. O site tinha uma página. Um logo, o nome da marca, uma frase, e um endereço de email. Só.

Realmente o cara era um gênio. Esse vai pro céu.

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